ARTIGO: O caos das ruas. Por Marcus Aragão

Cada engarrafamento é uma carreata pedindo mudança. Estamos fartos de começar o dia acelerando a irritação e freando o bom humor.
Infelizmente, as ruas e avenidas em Natal há muito estão congestionadas de problemas crônicos e hoje são o endereço certo de buracos, lombadas, mendigos e engarrafamentos.
Seria injusto culpar a gestão atual da STTU por problemas crônicos que enfrentamos há tanto tempo. Acredito que a diretoria é realmente bem-intencionada e capaz, mas o desafio é enorme.
Nossa parada obrigatória hoje são os engarrafamentos. Essa rotina irritante nos causa enormes prejuízos, que são diluídos ao longo dos dias, fazendo parecer menos bizarro do que realmente é. No entanto, ainda estamos pagando, e muito, para ficarmos presos dentro de um carro ou ônibus. Perdemos combustível e desgastamos peças dos veículos, como pastilhas de freio, câmbio e embreagem, simplesmente por nos arrastarmos pelas ruas. A tensão acumulada tem transformado motoristas pacatos em imprudentes e impacientes ao volante. E o pior é que essa irritação se estende aos nossos relacionamentos em casa e no trabalho.
O custo do trânsito parado é enorme — antes fosse somente o financeiro, mas não é apenas sobre dinheiro perdido — é também sobre vidas não vividas, pois ninguém vive preso dentro de um carro ou ônibus. É o pai que não vê o filho, a mulher que não encontra o marido, enfim, entre outras coisas, somos privados do convívio familiar. Temos também atrasos no trabalho, nas entregas, baixa produtividade. É menos tempo para o lazer, para as obrigações e mais para o estresse. É a tensão constante no volante.
Quem passa 4 horas por dia sob a custódia do trânsito, isto é, preso em engarrafamentos, equivale a uma pena de 5 anos de reclusão a cada 30 anos vividos — ou seja, 1/6 da vida. Você está cumprindo uma pena sem ter cometido crime algum.
— Viver nesse caos devia chamar atenção dos direitos humanos.
Os congestionamentos podem ainda desencadear transtornos mentais, ansiedade, dores nas costas, cabeça, pescoço, segundo a médica Dra. Fauzi Rached Ali.
Como se a situação não pudesse piorar, temos a indústria da multa. A multa em si não é necessariamente ruim, mas a diferença entre o veneno e o remédio é a quantidade. Temos pardais demais ou não?
Nosso trânsito sofre por infinitas interrupções. Muitas necessárias, sim. O problema é o acúmulo de situações que travam o fluxo. Numa pequena área urbana temos sinais de 3 tempos, inúmeras faixas de pedestre, lombadas sem fim, rotatórias, sensores de velocidade, vias reduzidas para circulação de ônibus e muito mais. Repito: Não sou contra nada disso. Apenas defendo o uso com moderação.
Vale lembrar que o trânsito caótico geralmente ocorre em cidades grandes que justificam essa situação pelo tamanho da população e da frota de carros. Acontece que essas cidades grandes oferecem as vantagens das grandes cidades, como uma maior oferta de emprego e uma economia pulsante. Quer dizer que só ficamos com a parte ruim?
— O sinal está verde para reflexões.
As obras públicas devem ser realizadas com um planejamento cuidadoso, levando em consideração o impacto sobre a população e a economia. O valor de uma obra é apenas uma parte pequena do custo total. O montante a ser considerado deve incluir a soma das perdas de faturamento de todas as empresas próximas às obras, o número de pais de família que perderão comissões de vendas ou, pior ainda, serão demitidos, além do montante de impostos que não será arrecadado. Isso sem mencionar o estresse constante em nossas vidas.
Sempre que começa uma obra pública, toda a população tem receio do transtorno que pode durar anos. É como se a cidade fosse sofrer uma cirurgia e logicamente, não deve ficar sangrando indefinidamente com uma ferida exposta nas principais avenidas — isso dói profundamente em toda a sociedade e fere de morte o comércio adjacente.
Vamos em direção à Avenida Felizardo Moura. No entanto, essa importante obra está tendo um efeito colateral indesejado. A diminuição do fluxo de veículos está devastando o comércio da região, principalmente na Avenida Bernardo Vieira, ou melhor, Nevaldo Rocha. Pegue seu carro e dê uma olhada na quantidade de prédios para alugar. São diversas empresas fechando suas portas e mais gente desempregada, simplesmente porque nosso comércio está se recuperando de uma pandemia que deixou sequelas em nossa frágil economia. Além disso, não podemos esquecer da crise global provocada pela guerra na Ucrânia e do momento político delicado em que o Brasil se encontra.
Quanto se perdeu também em arrecadação de impostos? Quanta inadimplência foi gerada nos lares das famílias? Toda cidade precisa de obras, claro. É preciso saber a hora mais adequada. Vou comparar nossa economia com um paciente de UTI. Correr na praia faz bem para a saúde, mas é adequado para quem está hospitalizado? Agora é o melhor momento para começarmos outra obra na avenida Alexandrino de Alencar?
Não seria melhor dar a preferência pelo sistema binário de trânsito, que transforma ruas ou avenidas paralelas em vias de sentido único? Como fizemos com as avenidas Antônio Basílio e Nascimento de Castro, por exemplo. Essa poderia ser uma das soluções menos traumáticas que suportaríamos para o momento atual.
Natal está estressada e buzinando, temos que avançar! Precisamos urgentemente encontrar uma nova rota para recuperar o tempo perdido na direção do desenvolvimento sustentável.
Marcus Aragão
Instagram @aragao01

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