
Muitos querem, mas esse foi um privilégio para poucos. Não sei se você sabe, mas as áreas da Via Costeira foram cedidas na década de 80. Não foi pago nem 1 real, nem 1 cruzeiro, nem 1 cruzado, nem 1 cruzado-novo. Empresários receberam a concessão dessas áreas apenas com o compromisso de construir hotéis, bares e restaurantes. Acontece que 8 grandes áreas não foram construídas, e o governo do estado, ano passado, tentou retomar esses terrenos — mas desistiu.
Esse problema ainda está para ser resolvido. O natalense espera, sentado, que seja homologado na justiça um acordo em que quem recebeu as concessões dos terrenos tenha 6 meses para solicitar o licenciamento na Semurb e, após o recebimento do alvará de construção, mais 3 anos para construir.
— A cidade vai esperar até quando para poder usufruir da Via Costeira?
Uma outra questão é sobre o uso da Via Costeira, o que se pode construir na orla. O novo Plano Diretor melhorou essa situação, mas as novas diretrizes para as Áreas Especiais de Interesse Turístico Paisagístico, entre elas a Via Costeira, estão com nossos vereadores para serem regulamentadas. Por que ainda não resolveram?
“Tudo poderá ser construído nessas áreas, é uso misto. Só que na Via Costeira, a única restrição é para equipamentos multifamiliares, ou condomínios residenciais. Vai ser possível construir multipropriedades”, explicou o titular da Semurb, Thiago Mesquita. A ideia é viabilizar empreendimentos pequenos, sejam comerciais, residenciais ou de serviços.
— A Via Costeira equivale a uma área onde poderíamos ter 9 praias. Vou explicar.
A distância do restaurante Tábua de Carne até o Forte dos Reis Magos dá aproximadamente 5 km e engloba 5 praias — Praia do Forte, do Meio, dos Artistas, Miami e Areia Preta. Como a Via Costeira tem aproximadamente 9 km, poderíamos ter umas 9 praias nesse espaço. É muita coisa. Um povo sofrido como o nosso não poderia abrir mão desse presente de Deus. A nossa economia nem se fala. A enorme área sem uso dentro da cidade é absurda. Para você ter uma ideia, a Avenida Afonso Pena tem aproximadamente 2 km. Imagine a quantidade de comércio, serviços e habitação que deixamos de fazer em quase 9 km? Logicamente, com planejamento adequado.
— É justo que essa extensa faixa de praia tenha utilidade hoje para aproximadamente 10 hotéis?
A Via Costeira é admirada por todos, mas usufruída por bem poucos. O pernambucano pode desfrutar tranquilamente, basta se hospedar. O baiano, da mesma forma. O capixaba, idem. O gaúcho e o alagoano, também. Enfim, só quem não pode somos nós — os nativos. Afinal, não vamos nos hospedar nos hotéis em nossa própria cidade.
— O que queremos? Poder utilizar uma orla digna e de todos, como ocorre em Maceió, João Pessoa, Fortaleza ou Recife. Por que não podemos?
A Orla de Boa Viagem, por exemplo, tem quase o mesmo tamanho da Via Costeira e tem tudo. Catorze quadras esportivas, cinco parques infantis, ciclovia, trinta módulos de musculação, jardim com pista de cooper, área de atividades físicas para terceira idade, uma academia e muito mais.
Tá preocupado com o impacto ambiental? Fique tranquilo. O Parque das Dunas tem 1.172 hectares ou 11 milhões e 720 mil metros quadrados — utilizaríamos dessa área gigantesca apenas uma fração mínima. O impacto em nossa qualidade de vida compensaria toda flexibilidade. Sempre devemos pensar na proteção ambiental, mas o Idema tem que pensar no desenvolvimento da cidade e na nossa qualidade de vida, também. Essa desenfreada proibição verde tem seus efeitos colaterais — onde o comércio não dá frutos nem o progresso floresce — só brota o desemprego e o atraso.
— Precisamos de um lugar ao sol.
Como você, meu leitor indignado, não vai conseguir de graça terreno nem no cemitério, que lhe seja permitido ao menos desfrutar da Via Costeira. O povo agradece, a construção civil agradece, a economia e o turismo nem se fala — afinal, teríamos muito mais atrativos também para os turistas.
Já perdemos 40 anos sem poder utilizar a nossa Via Costeira ou melhor, nossas “9 praias” — por enquanto, só nos permitem tomar multas de trânsito nessa orla.
Marcus Aragão
@aragao01