Aluna de medicina da golpe de 1 milhão em festa de formatura

A estudante Alicia Dudy Muller, de 25 anos, suspeita de desviar quase R$ 1 milhão da poupança feita para custear a festa de formatura dos alunos de Medicina da USP, recebeu de R$ 3 mil do Auxílio Emergencial do governo federal.
De acordo com o Portal da Transparência, a estudante recebeu, entre junho e novembro de 2020, R$ 3 mil em cinco parcelas de R$ 600. Os valores não foram devolvidos à União.
Alicia entrou na faculdade em 2018. Ela está no sexto ano do curso de Medicina, com subárea de atuação em clínica médica e especialidade em doenças infecciosas e parasitárias. A estudante faz residência médica no laboratório de Emergências Clínicas do Hospital das Clínicas.
 
Em entrevista para a Rádio USP em fevereiro de 2018, ela afirmou que tinha passado no curso de Farmácia e até chegou a fazer a matrícula, mas desistiu e decidiu fazer cursinho na Instituição Poliedro por mais um ano para tentar entrar em Medicina.
Moradora de um prédio na Vila Mariana, na Zona Sul de São Paulo, Alicia nasceu em Itararé, no interior do estado. Segundo a plataforma Currículo Lattes, ela fez o ensino médio na Escola Técnica Estadual Getúlio Vargas em 2014.
Num vídeo gravado há quatro anos para o Poliedro, ela comentou sobre o processo de aprovação na Faculdade de Medicina da USP. O registro foi publicado em 14 de maio de 2018.
“É difícil descrever como é ter um sonho realizado porque são anos batalhando. Mas agora é uma sensação de compensação. É todo o tempo que você gasta fazendo simulado, estudando pós-aula. Parece que aquilo não foi nada comparado àquele dia que você vê o seu nome na lista”, afirmou.
Na USP, Alicia também faz parte da Atlética e participou de um torneio de arremesso de peso da Federação Paulista de Atletismo em fevereiro de 2020.
 
A denúncia
 
Segundo o Boletim de Ocorrência sobre o caso do sumiço do dinheiro registrado por dois alunos, Alicia solicitou à empresa ÁS Formaturas – que seria responsável pela organização da festa – a transferência de R$ 927 mil em três parcelas:
 
R$ 604 mil, para ser transferido para uma conta pessoal no seu nome;
R$ 145 mil, que foram transferidos para uma conta em que o beneficiário não foi identificado;
R$ 171 mil, que foram transferidos para uma conta em que o beneficiário não foi identificado.
 
Em nota, a ÁS negou ser a responsável pela organização da festa, como citado no Boletim de Ocorrência, e disse que “não se comprometeu com a realização ou produção de qualquer evento. A responsabilidade da ÁS no contrato limitava-se a arrecadar os valores dos formandos e transferir para a turma, além da realização da cobertura fotográfica”. O g1 procurou a empresa novamente, mas não conseguiu contato até a última atualização desta reportagem.
 
Alicia afirma ter aplicado R$ 800 mil em uma corretora de investimentos chamada Sentinel Bank, que é investigada pela Polícia Federal (PF) por suspeita de fazer parte de um golpe de falso investimento na Bolsa de Valores. Ela, no entanto, não teria apresentado comprovantes sobre a movimentação.
Segundo as investigações, o grupo prometia investimentos com lucro acima do mercado. Apesar disso, os valores entregues pelas vítimas não eram totalmente aplicados e resultavam em prejuízos.
O g1 tentou contato com Alicia, mas não obteve retorno até a última atualização desta reportagem.
 
Mensagem no Whatsapp
 
Em mensagem no grupo de WhatsApp da comissão organizadora, Alicia disse que aplicou o dinheiro em uma investidora e teria sido vítima de um golpe.
Na mensagem, ela afirma que usou parte do valor para pagar advogados por conta do suposto golpe. No texto, a estudante diz ainda que vai pedir ajuda da direção para pagar a festa. O caso é investigado pela polícia e pela direção da universidade.
“Escrevo para dizer que não temos dinheiro. Com toda dor, culpa e arrependimento que vocês podem imaginar. (…) Nosso dinheiro foi todo repassado para a Sentinel Bank, uma investidora que, no fim das contas, não se passava de um grande golpe e nunca mais retornou nem com o dinheiro investido, nem com os rendimentos.”
 
E ela prossegue: “Vou ver com a diretoria da FMUSP se conseguimos ajuda deles”.
Um print com a mensagem viralizou nas redes sociais, após repercussão do caso. A estudante também já era investigada por estelionato e lavagem de dinheiro (leia detalhes abaixo).
Print do relato da estudante, suspeita de desviar quase R$ 1 milhão de fundo de formatura da USP — Foto: Reprodução/Redes Sociais
Print do relato da estudante, suspeita de desviar quase R$ 1 milhão de fundo de formatura da USP — Foto: Reprodução/Redes Sociais
 
O que dizem os estudantes
 
Em entrevista ao g1, estudantes que pagaram a formatura relataram que estão se sentindo impotentes.
 
“Todo mundo está muito aflito, triste, apreensivo, até um pouco reativo com essa situação, porque a gente não esperava que uma colega fosse fazer isso pelas costas — investimentos, sacar dinheiro, valores altos”, lamentou.

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