ARTIGO: O Caso Vini Jr. Por Marcus Aragão

No domingo passado, o mundo ficou horrorizado com os torcedores do Valência, na Europa, chamando o jogador Vini Jr de “macaco”. Como não conseguem vencer nosso jogador brasileiro dentro de campo, eles abandonaram o bom senso e a educação. Infelizmente, a Europa adiciona mais um capítulo a uma longa história de estupidez. O velho continente nos presenteou com duas guerras mundiais, a Inquisição que queimava pessoas vivas, o tráfico de escravos, a escravização de nações, a criação do fascismo, do nazismo e, para completar esse resumo macabro, até mesmo as cruzadas, nas quais houve atos inimagináveis, como o canibalismo. Por exemplo, na batalha de Maarate (atual Síria), os franceses cometeram canibalismo se alimentando de turcos e sarracenos. Oremos.
Sou obrigado a concordar com o presidente da Fifa, Gianni Infantino, quando ele disse em 2022: “O que nós, europeus, temos feito nos últimos 3.000 anos, devemos nos desculpar pelos próximos 3.000 anos antes de começarmos a dar lições de moral às pessoas”.
Quem viaja frequentemente para a Europa já se deparou, pelo menos uma vez, com alguma grosseria gratuita. Seja por parte de taxistas, motoristas de Uber, garçons, atendentes, funcionários de aeroportos ou qualquer outra profissão com a qual você tenha entrado em contato.
Não são raros os casos de xenofobia dos quais os brasileiros são vítimas. Há alguns anos, estudantes brasileiros da Universidade de Lisboa, em Portugal, encontraram uma caixa cheia de pedras na entrada da maior faculdade de Direito do país. O conteúdo da caixa, ou seja, as pedras, eram gratuitas se a finalidade fosse atirar em “Zucas” — um apelido pejorativo para brasileiros.
Algumas pessoas mais limitadas podem pensar: “Mas é porque os brasileiros vão para lá bagunçar a Europa!” ou “Só vão prostitutas!”. Será que os estudantes brasileiros na Universidade de Lisboa se enquadram nessa generalização?
A semana não foi nada fácil. O senador Magno Malta tentou ganhar destaque com uma declaração racista capaz de envergonhar qualquer primata: “Cadê os defensores da causa animal que não defendem o macaco? O macaco está exposto. Veja quanta hipocrisia. E o macaco é inteligente, é muito parecido com o homem. A única diferença é o rabo. Tudo o que você pode imaginar, ele tem”.
O racismo está enraizado no mundo de fato. Afinal, são centenas de anos de preconceito e apenas uma fina camada de civilidade nos protege da barbárie. Mas em diversos pontos da sociedade, já percebemos a ausência desse brilho. Na saída do estádio, logo após o fatídico jogo, um jornalista espanhol perguntou a Vini Jr se ele iria se desculpar por ter provocado a torcida do Valência.
Quantos não se calaram e abafaram seu racismo muito a contragosto apenas devido à repercussão mundial? Na sexta-feira, o presidente da LaLiga, Javier Tebas, tentou amenizar a situação após receber duras críticas por não ter apoiado Vini Jr. É verdade que Tebas era membro da Fuerza Nueva, um partido fascista que apoiava o General Franco, mas essa é outra história.
Para o brasileiro, que é natural de um país de terceiro mundo, com 56% da população sendo negra, morar fora pode ser mais complicado do que imaginamos. Mudar o nosso imperfeito Brasil já é difícil, imagine querer mudar outro país sendo imigrante. Depois desses acontecimentos, somos levados a refletir que não basta apenas não ser racista, é preciso ser antirracista. Ao mesmo tempo, devemos lembrar que não basta apenas ser brasileiro, é preciso lutar por um Brasil melhor, seja no campo do esporte, da política ou dos direitos humanos.
Marcus Aragão
Instagram @aragao01

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