Em São Paulo aluno se identifica na escola como cachorro, mas não quer se vacinar contra raiva


Como eu ia dizendo, antes de ser bruscamente interrompido, o bestiário moderno agora inclui gente que afirma ser bicho.
Uma escola de elite paulista, por exemplo, tem um aluno que se acha cachorro.
Ele quer ser visto como cão, os seus pais o tratam como tal
– quer dizer, como pet, não como cachorro de rua — e querem que a escola também o faça. Virou respeito à diversidade e ação de inclusão. Ele é um therian e não está sozinho.
Neste mundo animal do século XXI, que aboliu a existência do inconsciente e das neuroses, jogando no lixo Sigmund Freud e substituindo a psicanálise pelo identitarismo, eis que chegamos a este ponto: o dos “therians”.
A explicação é rasteira, mas suficiente nas superfícies em que nos comprazemos em viver: se você tem uma conexão tão grande com uma espécie animal, a ponto de sentir que você pertence a ela e apenas está preso dentro de um corpo humano, você é um “therian”.
Há therians cachorros, como o menino da escola paulista, therians gatos, therians lobos (mas não guarás), therians raposas e por aí vai, mas sempre no universo dos bichos com o discreto charme da burguesia. Aparentemente, não há therians gambás, tamanduás ou lêmures. Ou therians insetos, como baratas, pulgas ou percevejos.
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